A web vai ficar para trás?
Os programas para smartphones começam a rivalizar com os sites e podem representar uma transformação comparável ao surgimento da web
Quando está dirigindo e quer saber como está o trânsito, o paulista Fernando Souza, de 23 anos, acessa um programa de trânsito em seu iPhone. Para ler notícias, consultar o horário de cinema, acessar o Twitter, o Facebook ou o MSN, o caminho é o mesmo: os aplicativos especializados. “É mais rápido e fácil do que acessar o site no celular”, diz Souza.
As informações que circulam na internet ainda são primordialmente acessadas por intermédio de sites da web, usandose um computador. Mas não vai demorar para que as vendas de smartphones superem as de PCs. A previsão é que essa inversão aconteça já em 2013. Estima-se que haverá 1 bilhão de usuários de internet móvel em 2013, ante 450 milhões em janeiro de 2010. Esses consumidores movimentam um mercado novo, que deverá chegar a 17 bilhões de dólares no mundo nos próximos dois anos. A ascensão dos dispositivos móveis vai representar uma das maiores transformações da história da internet comercial. Antes, bastava fazer um website para estar na rede. Agora, cada vez mais é fundamental ter também aplicativo para celulares. “É uma tendência irreversível”, diz Michael Becker, da Mobile Marketing Association, grupo americano especializado em marketing em equipamentos móveis.
Não se trata apenas de exibir informações de outra maneira nos smartphones. A web é feita de padrões abertos e liberdade completa. Qualquer um pode colocar seu site no ar, muitas vezes usando ferramentas gratuitas.
Mas, no novo mundo dos aplicativos, os ambientes são mais restritos. Quem cria um aplicativo para o iPhone, por exemplo, precisa ter a aprovação prévia da Apple e só pode distribuí-lo pela loja virtual da empresa. Excesso de controle ou não, o fato é que a criação desses programas especializados tornou-se o setor mais efervescente da indústria tecnológica. Quem já tem presença estabelecida na web não vai abandoná-la, é claro, mas o incentivo para criar aplicativos é cada vez maior.
O Apontador, empresa que oferece serviços de localização, já lançou nove ofertas na loja virtual da Apple, estendendo o serviço antes só disponível na web. Até hoje foram feitos mais de 300 000 downloads. “Os aplicativos são muito mais eficazes para o nosso negócio”, diz Rafael Siqueira, diretor de tecnologia da LBS Local, proprietária do Apontador e do MapLink.
Além de oferecer uma apresentação visual mais apurada, os aplicativos conseguem fazer um uso mais eficiente do hardware dos aparelhos, como o receptor de GPS e o acelerômetro. Para Siqueira, muitas empresas que prestam serviços pela web não terão alternativa: serão obrigadas a criar programas específicos para os celulares se quiserem manter a relevância.
O interesse pelo mercado de software para aparelhos móveis não é exclusividade de quem trabalha com serviços online. Empresas dos segmentos financeiro, varejista e de alimentos investem no formato.
A montadora BMW, que viabiliza a conexão de iPods aos carros que fabrica há algum tempo, anunciou neste mês que vai também lançar uma interface chamada iDevice, para permitir ao motorista controlar os aplicativos que usa no celular em uma tela no painel do carro. O Bradesco já tem sete ofertas na Apple Store. O Itaú Unibanco, que já lançou cinco aplicativos para o iPhone, anunciou neste mês uma adaptação para o iPad, o novo computador tablet da Apple.
É o mesmo caminho do grupo de saúde Amil, que desenvolveu um aplicativo para os funcionários acessarem as informações gerenciais dos hospitais. Como os diretores circulam entre as unidades de serviços médicos, eles não tinham tempo ou chance de acessar as informações administrativas enquanto estavam em campo.
O aplicativo facilitou a consulta às informações durante as visitas e conquistou adeptos por também alertar os executivos quando um hospital atinge certo nível de lotação. “Fez tanto sucesso que encomendamos 50 iPads para substituir os notebooks e permitir o uso dos aplicativos criados”, diz Leonardo Simões, gerente da unidade de serviços da Amil.Algumas empresas apostam em aplicativos como estratégia de marketing, mesmo que o serviço que eles ofereçam não tenha a ver com o negócio da empresa.
A operadora Oi lançou serviços de música e rádio para os celulares porque acredita que precisa de ofertas diferentes para ajudar o usuário a se relacionar com o aparelho, mesmo sem ganhar nada diretamente com isso.
A estratégia é semelhante à da fabricante de bebidas Red Bull, que tem 12 aplicativos disponíveis em lojas virtuais de várias fabricantes, incluindo diversos games. “Os clientes chegam nos pedindo aplicativos”, diz Gustavo Ziller, sócio-diretor de novos negócios da empresa de desenvolvimento de conteúdos em novas mídias Aorta. “Por isso, hoje, mais de 90% de nossos trabalhos são nessa área.”
O faturamento da empresa, impulsionado pela onda dos softwares para celulares, deve saltar de 4 milhões em 2009 para quase 10 milhões de reais neste ano.
Para algumas indústrias, os aplicativos são mais do que uma novidade tecnológica: eles são a tábua de salvação. Com o lançamento do iPad, empresas de mídia viram uma maneira de aproveitar as vantagens do mundo digital – distribuição eletrônica a um baixíssimo custo -, evitando alguns problemas, como a competição virtualmente infinita que existe na web.
A revista de tecnologia Wired foi uma das primeiras a lançar um programa para uma revista eletrônica. “Para nós, o aplicativo é o melhor dos dois mundos”, disse o editor da Wired Chris Anderson a EXAME. “Na web, nossas fotos e nosso design perdem todo o impacto.
No aplicativo conseguimos fazer valer nossa experiência.” Em pouco mais de um mês, a primeira edição digital da Wired vendeu 90 000 cópias, número que superou a venda em bancas.
Anderson acha provável que, daqui em diante, o site fique em segundo plano diante do aplicativo da revista. “Nunca deixaremos de ter um site, mas, no nosso caso, o aplicativo é muito mais importante para nosso futuro.”
Fonte: Exame
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