Engana-se quem acha que esse é um dom divino. É claro que alguns nascem com essa habilidade mais aguçada, mas com treino e disciplina é possível adquirir o dom da palavra. E o valor de articular bem as ideias e saber expor o que se quer não está só em conquistar quem ouve, mas também em ingressar em um mercado que movimenta milhões no mundo todo.

Ensinar a arte da oratória é uma das profissões mais antigas do mundo. Na antiga Grécia, cidadãos eram treinados para falar em público e defender seus pontos de vista. Atualmente, há uma retomada no surgimento de especialistas no preparo de profissionais no mercado de trabalho. E não se trata de media training, mas de comunicação para falar em público com qualquer tipo de pessoa, afinal, hoje em dia tudo o que a gente fala, pode viralizar. Estar preparado para momentos decisivos é sempre importante.

Para a consultora de comunicação e sócia da All Presentations, Alessandra Braga, a falta de foco, de domínio emocional e o despreparo, podem sabotar um excelente comunicador. “Nos EUA as crianças aprendem na high school a desenvolver habilidades de comunicação e a fazer apresentações para os colegas. Já no Brasil, poucos têm essa oportunidade ainda na infância e, quando chegam ao mercado de trabalho, são “lançados aos leões” para defender o budget da área ou aprovar um projeto perante uma audiência crítica sem terem o devido preparado”, diz ela.

Uma pesquisa de 2014, da Universidade de Chapman, indicou que o medo de falar em público era a maior fobia entre os participantes – 25,3% deles tinham medo de falar diante de uma plateia. No entanto, esse medo pode estar limitando sua carreira. Segundo o site britânico BBC, uma pesquisa com mais de 600 empregadores, no mesmo ano, descobriu que entre as principais habilidades que os recrutadores procuram, “comunicação oral” é a número um e “talento para apresentação” é a número quatro, enquanto habilidades tradicionais de administração como “coordenar atividades administrativas” ficaram em último. Mesmo assim, uma pesquisa online nessa época, com 2.031 funcionários americanos descobriu que 12% estão dispostos a abrir mão disso e deixar outra pessoa fazer a apresentação, mesmo se isso lhes custar mais respeito no ambiente de trabalho. Entre os que se apresentavam, quase 70% concordaram que isso foi determinante para seu sucesso no trabalho.

A comunicação tem sido uma das principais competências necessárias a todos nós, especialmente em tempos em que as empresas estão dando cada vez mais valor a isso. Harvey Coleman afirma no seu livro Empowering Yourself (“Empodere-se”, em tradução livre), que há três fatores para o sucesso na carreira: desempenho, imagem e exposição. O interessante é o peso de cada um deles: exposição 60%, imagem 30% e desempenho 10%. ”Fazer um bom trabalho é importante, mas saber vender o peixe e construir uma imagem confiável é fundamental”, conta a especialista.

Acostumada a treinar profissionais para falar em público, a Consultora de Comunicação afirma que o conhecimento e a prática são necessários para conseguir vender o seu produto ou até reter a atenção da plateia durante uma palestra. Segundo ela, boa parte das pessoas pode dar um show em uma apresentação, o pré-requisito é treinar antes. “Falar em público é como thriatlon, como diz uma das minhas clientes, exige dedicação, disciplina e técnica”, afirma Alessandra.

O crescente número de eventos e palestrantes com caches de cifras milionárias confirmam o valor do saber falar em público. Ser palestrante se tornou uma das profissões mais lucrativas dessa década. Calcula-se que a indústria do discurso movimente no mundo, por ano, cerca de US$ 12 bilhões e R$ 100 milhões no Brasil. O valor cobrado pelos especialistas mais famosos varia de R$ 5 mil até R$ 300 mil. O ex-presidente dos EUA Bill Clinton, por exemplo, estima-se que já faturou mais de US$ 89 milhões com palestras desde que deixou o cargo, em janeiro de 2001.

Dicas para falar bem em público:

1. Crie um roteiro: com base no objetivo definido e informações levantadas a respeito da audiência, defina as mensagens importantes e as ordene em uma lógica coerente. Se você tiver 10 minutos para apresentar, pode dividir assim:

Fonte: Workshop Comunicação Eficaz em Apresentações Corporativas – All Presentations

2. Preparo técnico e emocional: Memorize as mensagens importantes, a lógica geral, e principalmente, o início da apresentação. É quando a maioria de nós tende a estar mais nervoso.

3. MANTENHA O AUTOCONTROLE: Manter a calma diante de uma pessoa irônica, irritada ou até mesmo dramática, exige muito autocontrole e foco. Por isso, além do preparo técnico, você precisa cuidar do seu preparo emocional. Uma resposta agressiva, por exemplo, pode agravar a situação, mas se esquivar em responder soará como uma postura passiva e você pode perder o respeito do seu público.

4. SEJA CERTEIRO: Responda de modo claro, sucinto e de acordo com o estado emocional do seu público. Demonstre que percebeu o desconforto da pessoa a respeito da questão e que compreendeu (de verdade) o seu ponto de vista. Ao se sentir ouvido por você, a tendência é que a pessoa se acalme, e a partir daí, você poderá falar mostrando que tem uma visão diferente e o porquê.

5. MANTENHA ALIADOS POR PERTO: Se possível, mantenha junto de você pessoas de confiança que possam te apoiar ou ajudar a esclarecer possíveis dúvidas. Por exemplo, se podem surgir perguntas mais técnicas a respeito do assunto que você irá abordar, envolva a equipe de especialistas que fez parte do projeto e combine com eles sobre apoiar você caso surjam questões desse tipo.