Marco Roza pesquisa e disponibiliza no seu blog www.lucriatividade.com textos sobre criatividade.
“A intenção é criar uma plataforma colaborativa para ajudar os demais produtores de conteúdos na internet a criar e consolidar suas próprias reflexões sobre criatividade”, diz Marco Roza.
Segue uma amostra do texto inaugural de lucriatividade.com:
“Viver não é necessário; o que é necessário é criar.”
Somos obrigados a nos agarrar às palavras quando refletimos sobre os insondáveis mistérios que definimos por uma palavra absolutamente sem sentido: vida.
Poderíamos nos apoiar em Santo Agostinho e reescrever sua famosa frase: “Que é, pois a vida? Se ninguém me pergunta, eu sei; se quero explicá-la a quem me pede, não sei.”
Da mesma maneira que substituímos a palavra “tempo” da frase agostiniana por “vida”, poderíamos escolher quaisquer outras palavras que julgássemos esclarecedoras dos mistérios que nos assombram, enquanto sobreviventes.
Conseguiríamos, apenas, um dicionário que alinharia um algoritmo indecifrável, com palavras vinculadas umas às outras, mas que mesmo que fossem evocadas, uma a uma, num ritual de desespero infinito, mesmo assim, os mistérios à nossa volta seriam sequer nomeados, quanto mais esclarecidos.
Quando trocamos os mistérios da vida (e da morte) pela agenda tumultuada entre o parto e o último suspiro, deixamos distantes da nossa compreensão todo e qualquer mistério do mundo. E se tivermos sorte e fé, nos entregaremos, incondicionalmente, a Fernando Pessoa, em suas múltiplas personalidades, que nos mostrou que “Viver não é necessário; o que é necessário é criar.”
E completa: “Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso. Só quero torná-la grande, ainda que para isso tenha de ser o meu corpo e a (minha alma) a lenha desse fogo. Só quero torná-la de toda a humanidade; ainda que para isso tenha de a perder como minha”.
E diante dessa entrega irresponsável, que apenas os samurais, os poetas e os santos conseguem no enfrentamento inconsequente aos mistérios que ousaram desafiar, ainda existem pessoas como nós, pobres mortais, que se imaginam ou se descrevem como criativos.
Há, inclusive, os que adotam a definição de “criativo” como sendo sua profissão e a partir de algumas elaborações macabras, levam alguns trocados para casa no final do mês, arrancados da ingenuidade de outros mais ingênuos que eles mesmos.
Coitados de nós.
Enquanto nos perdemos nos mistérios da vida, sem entregarmos nossas próprias vidas, radicalmente, à criação, devemos nos incluir nas orações finais de Jesus: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”. (Lucas 23:34)
Merecemos o perdão, pois quando nos pretendemos ter consciência da criatividade, estamos como descreve Zeca Baleiro, em sua canção “Lenha”: “Eu amo você/Mas não sei o que/Isso quer dizer”.
E mesmo não sabendo, percebemos através de nossa intuição inconsciente, coletiva e ancestral que só nos tornamos criativos, de fato, quando nos lançamos uns nos outros, até sair faísca. E juntos, cantamos com Zeca Baleiro: “O que quer que eu diga/Você não vai entender/Mas se eu digo venha/Você traz a lenha/Pro meu fogo acender”.